Rádio Midwest Console Modelo DD-18 (18-36)
Restauração


Em julho de 2013, eu fui contatado sobre um rádio a venda. O proprietário dizia-me que “ele era um rádio muito grande e que a marca era Midwest...”. Sem ter possuído um aparelho com esta marca e com os dados recebidos por telefone, me pus a pesquisar no  www.museudoradio.com.  As primeiras impressões foram boas e antevi um rádio de real valor para a coleção. Ao vê-lo, as primeiras impressões foram confirmadas e a negociação foi bem sucedida.

Trata-se de um receptor fabricado pela empresa norte-americana Midwest Radio Co., Cincinnati , Ohio, modelo DD-18 e chassi tipo 18-36, do ano de 1936. Um rádio enorme, com gabinete em madeira nobre tipo console e 1 metro e vinte e dois centímetros de altura e 18 válvulas!

O estado era bem problemático. Embora estivesse com o chassi e a caixa aparentemente íntegros, a sujeira, os cupins e algumas tentativas de restaurar a parte eletrônica fizeram mais estragos que soluções.

Limpeza e testes no transformador de entrada

Afora a poeira que não permitia distinguir as partes do chassi, a fiação, capacitores e outros componentes estavam danificados ou usados de forma errada. A fiação de entrada de corrente alternada e a saída de CC (+B) apresentava-se numa situação de quase curto-circuito. Dentre tantas outras falhas, adaptações e faltas com a originalidade, o alto-falante não era de modelo eletrodinâmico, mas com ímã permanente. O transformador de saída do duplo push-pull (4 válvulas 6F6) fora substituído por um com valores distintos em relação aos possíveis de fábrica.

Após a limpeza completa do chassi, isolei o transformador de entrada do restante do chassi e verifiquei a existência de possíveis curto-circuitos. Feitas as medições em ohms, classifiquei a fiação do trafo e o liguei e as medidas de tensão estavam corretas: alta tensão e 5 VCA para as duas válvulas retificadoras 5Y3 (5Z4 no original) ; 7 volts para os filamentos e lâmpadas em geral (6.3 VCA). A entrada e os isolamentos do transformador foram refeitos.

Alto-falante e trafo de saída em push-pull

O próximo passo foi a difícil tarefa de conseguir um alto-falante eletrodinâmico (com bobina de choke) e com grande diâmetro. O DD-18 estava com um alto-falante não original (ímã permanente) e 15 polegadas de diâmetro. O máximo que consegui no estoque foi um alto-falante eletrodinâmico de 10 polegadas, procedência norte-americana e com bobina de 2000 ohms, valor idêntico ao original.
A segunda dificuldade foi quanto ao transformador de saída em push-pull. O anterior apresentava 80 e 100 ohms em cada “lado”. Não tendo os valores originais do fabricante, optei por um trafo de saída com cerca de 180 ohms em cada lado do push-pull.

Identificando partes

Eu jamais me tinha sequer defrontado com um receptor com tantos tubos! O maior chassi até então restaurado tinha 10 válvulas. Afora a dupla retificação e o duplo push-pull, havia funções novas a pesquisar e reconhecer. Uma forma foi fazendo uma lista das 18 válvulas e suas funções, tendo por base o Midwest Radiomuseum.

Nome

Função

V1

6K7

Amplificadora de radiofrequência

V2

6C5

Osciladora

V3

6K7

1º Detectora - mixer

V4

6K7

1ª Amplificadora de FI

V5

6K7

2ª Amplificadora de FI

V6

6H6

2ª Detectora

V7

6C5

Amplificadora de AF

V8

6F6

Driver do push-pull

V9

6F6

Saída de AF (push-pull)

V10

6F6

Saída de AF (push-pull)

V11

6F6

Saída de AF (push-pull)

V12

6F6

Saída de AF (push-pull)

V13

6K7

Amplificadora do AVC

V14

6H6

Retificadora do AVC

V15

6C5

Whistle (oscilador heteródino)

V16

6C5

Tunalite (indicador de sintonia)

V17

5Z4 (5Y3)

Retificadora

V18

5Z4 (5Y3)

Retificadora

O receptor possui seis faixas de onda. Cada faixa possui marcação em frequência e em metros, com trimmers para calibragem.  Observando o dial e as descrições do Midwest Radiomuseum, estão em ordem decrescente:

E - European band: ondas médias abaixo de 400 k hertz
A - American band: ondas médias 550-1600 K hertz
L - Low band -  aeronaves e polícia
M- Short wave 
H - High short wave
U - Ultra high short wave

 


 

Analisando e revendo tensões

Logo que posto “em carga” (com todas as válvulas ligadas ao +B)  foi notado que as tensões eram excessivas para o circuito, uma constante na restauração dos receptores que foram feitos para uma tensão original da época de 110 VCA em relação aos 127 VCA atuais. A solução mais fácil foi a colocação de uma resistência de 5 ohms por 50 watts na entrada da linha de 127 VCA (125 volts na média voltagem oferecida na oficina), o que baixou e estabilizou as saídas do transformador a valores mais “calmos” (foto abaixo).

Esta resistência foi posta em local seguro do chassi devido ao aquecimento. Desta forma, eu pude deixar as tensões de placas das 4 válvulas 6F6 de saída (dois push-pull em paralelo)  e os valores de +B mais baixos daqueles apresentadas pelos manuais de fábrica e encontradas na tabela acima do site http://www.midwestradiomuseum.com

Nas minhas restaurações a experiência demonstrou e fixou o costume de deixar os valores das tensões um pouco abaixo daqueles máximos dos manuais de válvulas, tabelas e esquemas de fábrica, posto que, além do aumento de 15% na tensão de alimentação atual, as válvulas e demais componentes possuem 70 ou mais anos de existência! Pôr em funcionamento um rádio da década de 1930 ou 40 e exigir que funcione com tensões no limite de quando foi fabricado é o mesmo que exigir que um cidadão de mais de 80 anos corra da mesma forma do que quando tinha 20 anos: vai entrar em colapso com pouco tempo de uso!

Desta forma, a tensão de saída do catodo das 5Y3, após o chock de filtro e da bobina do alto-falante, ficou na ordem de 440 VCC o que representou uma tensão por volta de 300 VCC para as placas das 6F6 e 240 no +B, bem mais compatíveis que os valores de 370 VCC (!) apresentados na tabela de fábrica para as placas das válvulas de saída e 320 VCC para o +B.

Demais etapas do restauro eletrônico 

Como de hábito e necessidade imperiosa, os eletrolíticos foram retirados e restaurados, inserindo novos capacitores nos antigos invólucros de alumínio originais. Assim, os quatro capacitores eletrolíticos de filtro na retificação foram resumidos a duas unidades, cada um contendo dois capacitores novos, com valores mais altos (22 e 47 microfarads) do que no esquema original. Figura ao lado. Os demais capacitores eletrolíticos e comuns, e resistores, foram substituídos por seus valores de fábrica.

O Painel

Uma limpeza com lixa e esponja de aço e posterior retoque com tinta alumínio deixou o dial com aparência de novo (foto
à direita). O mostrador do Midwest DD-18 lembra o símbolo da aeronáutica (asas de um avião) e possui quatro controles em knobs. O central é a sintonia que se divide em dois knobs com vernier, para uma sintonia mais fina. Abaixo deste, estão a chave seletora de ondas, e os controles de volume e de tonalidade. Entre estes últimos há dois botões de premer, push-buttons. O da esquerda chama-se “silent tunning push button”, (afinação silenciosa) que corta todos os sons para o ajuste de uma nova estação:  o áudio para uma afinação mais silenciosa. O da direita é o “whistle” (apito): o rádio emite uma alta frequência que também oscila conforme a sintonia da estação desejada. Após quase 80 anos de sua fabricação, o “oceano” de ruídos e interferências de radiofrequência que inundam os nossos lares e o desaparecimento gradual das emissoras de AM e OC, dá a estes controles um mero aspecto histórico.

A lâmpada do painel (tunalite) baixa a luminosidade cada vez que uma estação é sintonizada. Para tanto existe a válvula V16, uma 6C5.
Ao contrário da maioria dos demais rádios onde o ponteiro oscila sobre um dial fixo, no DD-18  há dois “ponteiros” fixos (acima e abaixo do dial circular) compostos por  uma “fresta” luminosa. São os ponterios luminosos por onde gira o dial circular de plástico. O luminoso da parte inferior estava destruído e tive necessidade de produzir um, usando as placas de lumínio finas dos antigos disquetes de computador. Sobre esta lâmina foi colado um pedaço de cartolina para adequar a cor do “ponteiro” iluminado, conforme fotos abaixo.

O gabinete

O Midwest DD-18 é um receptor com gabinete formado por um imponente console que a nomenclatura radiófila denomina floor – gabinete alto, como um móvel apoiado diretamente no piso.  É um exemplo de um móvel do que se denominou Art Deco e os anos 1930. Possui uma grande dimensão vertical (1,21 m já descontados 0,5 cm de apoios de feltros), 68 cm de largura e 42 de profundidade. Aqueles que restauraram o chassi, bem lembram o seu enorme peso: o set completo ultrapassa 45 quilos...!

A madeira parecia sem maiores problemas, até que resolvi substituir o tecido frontal. O amigo Sérgio Caon moveu o assoalho logo abaixo do alto-falante: quase tive um enfarte ao ver o volume de madeira atacado e destruído por cupins! 

Os carpinteiros da Midwest ou a empresa que fabricava os gabinetes não tiveram o cuidado de pôr uma viga de madeira de tão má qualidade (pinho branco) num gabinete de madeiras nobres... E está bem escondida no interior. Pensando já ter terminado, vi que estava longe do fim. Havia muito trabalho pela frente! Embora os cupins já não estivessem ali, eu não esperaria voltarem: foi feito o tradicional banho de líquido cupinicida.

Em seguida, retirei as partes soltas e preenchi algumas áreas mais internas com massa plástica com catalisador, para aumentar a rigidez da madeira. O acabamento era de volume considerável para que eu passasse inúmeras mãos de massa para madeira. Então preenchi com gesso comum e lixei a superfície. Abaixo estão, respectivamente, estas duas fases do trabalho.

 

 

O pedaço de madeira de seção 2,5cm x 2,5 cm (uma ripa) que aparece na parte superior da viga restaurada foi incluída para permitir um melhor acabamento do gesso. Foi uma semana de trabalho pesado por todos os sentidos: o pesado tinha que ser posto de pé ou deitado a cada face de preenchimento e lixamento do gesso...! Após, muitas demãos de tinta e lixa, conforme as fotos abaixo.



O Tecido

O pano que recobria os alto-falantes estava completamente rasgado e irrecuperável. A amiga Daisi Guindani doou uns metros de um adequado tecido trazido da República do Uruguai.  Na sequência de fotos abaixo, são apresentadas a mudança das ripas de sustentação e o aspecto final do tecido.

O Acabamento

O chassi foi pintado com tinta Laca Automotiva na cor alumínio. Abaixo, o chassi pronto e as etiquetas metálicas, mostrado abaixo com suas etiquetas metálicas em destaque.

Midwest Model DD-18 (18-36) Console Radio, 1936, USA.

Veja ele funcionando: https://www.youtube.com/watch?v=mZzhGWBXBCU&feature=youtu.be

Os  agradecimentos :

Brasil
Arthur Victoria D’Arisbo, filho e manager do site
Daisi Guindani
Sérgio Moraes Caon

Canadá
Jean Yves Bourget

USA
Philip I. Nelson    http://antiqueradio.org/MidwestDD-18.htm 
Mike Simpson      http://www.midwestradiomuseum.com  

        

  

 




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