CLASSIFICAÇÃO DOS RÁDIOS A VÁLVULA

III. OS GABINETES: ESTILOS e MATERIAIS

           BREADBOARD
          Os primeiros circuitos a válvula, praticamente “galenas com válvulas”, eram confeccionados fixando-se os componentes numa pequena tábua, o que os denominou de 8breadboard (tábua de cortar pão). Desta forma, os receptores tinham as suas partes expostas. Como “chassi” foram usados, muitas vezes e literalmente, tabuleiros de fatiar pão.
          A foto ao lado é de um receptor breadboard, marca Atwater Kent, o 2º modelo (nº. 3945), de 1922, fabricado nos USA. Cortesia de Bill Kendrick (www.antique-radios.net), Antique Radio Pictures.

88          CAPELINHA
          Conhecidos na literatura internacional por cathedral, por possuírem um topo curvo em forma de ogiva gótica, constituem-se num clássico dos rádios com caixa de madeira.
          Foram produzidos durante toda a primeira metade dos anos 1930.
          Os cathedral possuem em geral uma apresentação artística, com gabinetes em madeira nobre e decorada.
          Na foto da direita, um receptor capelinha RCA modelo 121, de 1933, da coleção do autor.

          TOMBSTONE
          Os tombstone (lápide) são rádios com gabinete de madeira em forma retangular, bem mais altos do que largos, como a designação da língua inglesa indica.
8          Seguidamente são chamados de “capelinha”, num maldoso erro induzido pelo comércio de antigüidades para aumentar-lhes o valor.
          Muito estimados pela aparência, os tombstone diferem dos capelinha pela parte superior plana. Como os anteriores, possuem amiúde um dial circular e ponteiro tipo “relógio”, apresentando, em cada hemisfério, uma ou duas faixas de onda.                          
          Na foto, um receptor tombstone fabricado pela Zenith Radio Corporation em Chicago, no ano de 1937.  O modelo 6S229 é chamado de black-dial pelo tradicional mostrador redondo e escuro. Coleção do autor.

 8          CONSOLE
          Os aparelhos com gabinete em console foram rádios produzidos para serem apresentados como um móvel nas salas das residências.
          Os receptores console possuem gabinetes com cerca de um metro de altura e com extrema decoração, assemelhando-se às eletrolas que vieram a seguir. 
          São classificados como highboy ou lowboy, respectivamente com as pernas maiores ou menores do que a metade da altura do gabinete. Outros, maiores e mais imponentes, são denominados floor, verdadeiros “rádios-estante”, apoiados diretamente no piso.
          Na foto ao lado, um clássico receptor Atwater Kent, modelo 60-C, de 1929, com gabinete em console low-boy. Coleção do autor.

           REPWOOD
          Os gabinetes de rádios tiveram alguns momentos de maximização na sua aparência ornamentada8. Isto ocorreu na década de 1930.
Arcos, volutas e motivos em relevo foram produzidos por misturas de solo, serragem e cola, o repwood.
          Esta massa era prensada em moldes para reproduzir as figuras decorativas. Ao lado, um receptor RCA, modelo R22S, de 1933, com caixa decorada com repwood, da coleção do autor.

           NOVELTY
          Os novelties são gabinetes de rádios em modelos não usuais, exóticos, parecidos com tudo, menos com receptores: uma escultura, um cavalo, uma máquina de apostas, uma garrafa, o Mickey Mouse, etc.
8          Os gabinetes eram projetados com aspectos intrigantemente diferentes, como forma de chamar às compras quem quisesse disfarçar o rádio!
          Foram fabricados desde os anos 1920, ainda com os circuitos TRF, e adiante, como super-heteródinos. Ao final dos anos 1950, estes modelos diferenciados tornaram-se populares com a era do transistor.
          Na foto ao lado, um rádio novelty, modelo Mickey Mouse 410, fabricado pela Emerson Radio & Phonograph, em 1933. Cortesia de Bill Kendrick (www.antique-radios.net), Antique Radio Pictures.

           PORTÁTEIS
          Considerada a época de sua fabricação, de 1930 a 1950, estes rádios valvulados eram os que podiam ser “portados”, carregados para uso em locais abertos ou em viagens.
          Hoje considerados grandes, muito distantes da atual miniaturização,8 estes receptores eram alimentados à bateria ou na forma AC/DC.
          Mais leves e comumente com uma alça na parte superior, foram os primeiros rádios pessoais: eles podiam acompanhar o dono pela casa, diferindo dos rádios modelo table, praticamente imóveis na sala ou na cozinha.
          Na foto da direita, um receptor marca Zenith, modelo 6D015, de 1946, AC/DC, com pequeno gabinete em baquelite. Coleção do autor.

           BAQUELITE
          O bakelite foi o primeiro polímero, criado por Leo Baekland, químico belga radicado nos Estados Unidos. Ele foi patenteado em 1909, tomando o nome comercial do seu inventor. É obtido através de dois subprodutos do carvão: fenol e formaldeído. 
5          O material teve larga utilização, de cinzeiros a telefones. Para torná-lo mais forte foram acrescidas fibras, como as de madeira, de algodão ou trapos. O baquelite é de grande durabilidade, ótimo isolante, e resistente ao calor e à umidade, sendo apresentado nas tradicionais cores castanho e preto.
O sucesso foi enorme para o uso como “caixas” de receptores, notadamente para tornar os rádios menores, mais leves e livres dos cupins!
          Sua produção foi imensa como substituto das caixas em madeira, estendendo-se ao Brasil desde o final da década de 1940.  Na foto acima, um receptor RCA, modelo 5Q55, do ano 1939, com gabinete em baquelite, da coleção do autor.

           CATALIN
          Considerado um material à parte por seu valor histórico, este plástico foi usado em pequenos produtos como bijuterias, anéis para guardanapo, puxadores e decoração.
          No ano de 1928, a empresa norte-americana Catalin Co. comprou os direitos de produção desta resina fenólica dos alemães. Em 1937, alguns fabricantes de rádio como Dewald, Emerson e Fada iniciaram o uso do catalin. Os gabinetes eram produzidos em muitas cores, o que ocorreu até 1947. Ao contrário do baquelite que era formatado em pó, o catalin permitia todas as formas, pois sua moldagem255 era feita na forma fluida.
          Inobstante a sua beleza, muito cedo foram vistos os problemas com o produto, devido à sua instabilidade: com o tempo, a cor muda e escurece, e o material encolhe, causando fissuras. Há uma compressão sobre as partes rígidas como o chassi, tornando difícil a sua retirada sem danificar a caixa.
Ainda hoje e com restauração, muitos deles preservam o brilho, as cores translúcidas e os detalhes dos gabinetes Art Deco.
          Na foto acima, o modelo Coronet KM de 1934, fabricado pela Sonora Phonograph Co. , USA, com gabinete em Catalin (coleção do autor). 

          PLASKON
          O material plástico denominado plaskon foi desenvolvido em 1930, pela companhia norte-americana Toledo Scale.
          Nascido de uma união entre a uréia e o formaldeído, o produto difere muito do baquelite, pois pode ser moldado (termoplástico) e permite cores, sendo logo aceito pela indústria para fugir aos padrões marrom e preto.
1          Praticamente todos os gabinetes de rádios, fabricados de material sintético anteriormente à II Grande Guerra, são de baquelite, catalin ou de plaskon.
          Na foto ao lado, um receptor RCA Victor, modelo 65X, ano 1946, com gabinete em plaskon, montado no Brasil. Coleção do autor.

          AÇO
          Os equipamentos de rádio com gabinete metálico foram fabricados desde os primórdios da industrialização dos receptores. Na década de 1920, muitas “caixas” para rádios regenerativos e neutrodinos foram construídas em aço, sendo substituídas por modelos decorativos de madeira até meados da década de 1940, quando os gabinetes metálicos retornaram com força.
5616515611          Vários fabricantes notabilizaram os gabinetes fabricados em chapas de aço, como Hammarlund, Hallicrafters e National.
          Denominados ham gear (equipamento presunto) pelo seu formato ortogonal, são utilizados atualmente nos modernos monitores de radioamadorismo. Na foto ao lado, um rádio Hallicrafters, modelo S-38, de 1948, o primeiro rádio da família, comprado pelo meu Pai, Dario Reis D’Arisbo, em 1950.

 

          Nosso propósito foi apresentar, numa forma sintética e ordenada, os principais circuitos, tipos de alimentação e formas de gabinete dos rádios a válvula.
          Os receptores aqui apresentados e da própria coleção, funcionam perfeitamente conforme os esquemas originais, e foram, em sua maioria, restaurados pelo autor.
          Este hobby é dedicado a todos que apreciam estes maravilhosos receptores e aos que fizeram a História do Rádio.       
                                                                                                 
                                                                                                                                                 Daltro D’Arisbo




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