Etiquetas
Grande parte dos receptores não possui mais os emblemas e etiquetas originais. Elas vêm afixadas no gabinete, chassi e componentes, e têm enorme utilidade para a identificação do modelo, ano e marca. São esquemas, logos, selos, gravações ou pinturas, placas metálicas ou plásticas. A raridade ou valorização de um receptor pode ser anulada pela sua ausência!
Na foto acima, uma etiqueta plástica do chassi de um rádio marca Marconi modelo T-23BT, fabricado na Inglaterra pelo famoso inventor italiano, em 1950. Na esquerda, a etiqueta de papel de um Pilot modelo T-133, contendo a locação das válvulas.
Nunca!
Nunca se deve ligar um rádio sem antes saber as suas características e ter certeza de que não há curto-circuito. Após o exame da conformidade do esquema original com o chassi, componentes e fiação, uma maneira de testá-lo quanto às tensões é mudando a chave seletora do aparelho para a máxima voltagem possível, por exemplo, 240VCA, e ligá-lo na rede de 110 VCA. Este teste também pode ser feito com um transformador comum de 110/220 volts.
Afora o uso de multímetros, pode ser usado o tradicional teste de uma lâmpada ligada em série com o cabo de entrada. A tomada de eletricidade deverá estar protegida por um disjuntor de resposta rápida e baixa corrente, por exemplo, cinco amperes.
Dica: a primeira ligação de um aparelho desconhecido deverá ser realizada em ambiente absolutamente silencioso: o rádio poderá estar falando! Por outro lado, os transformadores e outros componentes dão alguns sinais audíveis de fadiga – estalos e ruídos, antes dos visíveis: a fumaça e a queima!
Capacitores
Os capacitores são grandes fontes de problemas nos rádios antigos. Dentre eles, os capacitores eletrolíticos com fuga ou em curto-circuito proporcionam a queima do transformador de entrada e da válvula retificadora.
A sua substituição por outro idêntico é arriscada pela ausência de capacitores antigos absolutamente confiáveis. Uma boa prática usada pelos restauradores é a de colocar capacitores novos no invólucro dos antigos.
Ao lado, a retirada do material dielétrico de um capacitor eletrolítico. É conveniente usar um saca-rolha exclusivamente para o uso em tais produtos químicos e outro somente para abrir vinhos...
Capacitores com resistência de poucos megaohms ou apresentando capacitância muito diferente daquela declarada pelo fabricante devem ser descartados.
Há uma unanimidade entre os restauradores quanto à substituição dos capacitores com qualquer sinal de desgaste elétrico ou mesmo pela má aparência do seu envoltório.
A retirada do miolo do capacitor antigo também pode ser feita por aquecimento. Após a retirada da base do cilindro (contatos e terminal com rosca), aqueça suavemente e gire o cilindro de alumínio até sentir que o material interno está solto. Muito cuidado deve ser tomado quanto aos gases desprendidos pelo material químico do dielétrico aquecido. Use máscara respiratória. Abaixo, fotos da “restauração” do capacitor eletrolítico triplo (2 x 40 mF + 20 mF) do rádio Fada (Frank Angelo D'Andrea) , modelo 740early , construído em 1947 nos USA.
Nos casos onde os eletrolíticos não são postos em cilindros de alumínio sobre o chassi, o que ocorre frequentemente em receptores pequenos e com válvulas em série, deve-se trocar os antigos eletrolíticos por novos diretamente sob o chassi. Abaixo, a substituição de dois capacitores eletrolíticos de 33 mF do rádio Geloso modelo G8623, construído na Itália em meados da década de 1950.
Abaixo, a troca de capacitores comuns envoltos em caixa metálica do rádio Atwater Kent, modelo 46, construído em 1928 e 1929, nos Estados Unidos.
Nos receptores antigos, os capacitores eletrolíticos não são usados apenas para “filtrar” a corrente retificada. Eles são usados também para “polarizar” os catodos de algumas válvulas, dentre elas a de saída (power). Nos casos, usa-se uma resistência de 200 a 400 ohms e 1 watt em paralelo com um capacitor de 25 a 50 micro Farads por 25 a 50 Volts de isolamento. Na foto, um destes eletrolíticos usados na válvula EL41 do rádio inglês PYE modelo PE 39B, de meados da década de 1940.
Alguns receptores antigos como os Philco possuem blocos de baquelite com capacitores. Eles são muito usados na entrada de energia e junto ao controle de volume (potenciômetro). Há uma boa maneira de deixá-los como novos mantendo a estética. Clique aqui.
Nunca!
Nunca se deve aventurar, mexer ou testar um rádio sem ter conhecimento sobre os riscos da eletricidade e estar bem protegido dos perigos do choque elétrico! O transformador e parte do circuito apresentam tensões próximas ou superiores a 300 volts, o que poderá trazer sérios riscos à saúde!
Alto-Falante
Na maioria dos casos, é necessária a restauração do alto-falante
(AF),pela destruição do cone de papel. Há empresas especializadas
na substituição do cone e sua bobina.
A partir da década de 1940, os AF foram construídos com ímã permanente.
Antes disso, os alto-falantes eram do tipo eletrodinâmico,magnetizados com a passagem de corrente por uma bobina instalada na sua parte posterior, o chamado “choque de filtro”, nos esquemas norte-americanos field-coil.
Seus valores comuns encontram-se entre mil e dois mil ohms.
A figura ao lado reproduz o esquema de um AF eletrodinâmico. É importante verificar a continuidade e o valor da resistência das fiações do “choque de filtro” e do transformador de áudio (saída). Estes últimos apresentam o bobinado primário com valores entre 250 e 450 ohms.
Nos rádios com duas válvulas de saída, o push-pull, há uma derivação na bobina do primário no transformador de áudio.
Restauração e pintura de um alto-falante eletrodinâmico de 6,5 polegadas de
diâmetro, do rádio General Eletric modelo K 53, construído entre 1933 e 1934.
A pintura do alto-falante é feita com as mesmas instruções quanto ao chassi: limpeza com pano, solvente e lixa número 220 ou mais fina, e duas a três demãos de tinta automotiva diluída em thinner. Tudo num ambiente bem ventilado, com o uso de luvas e máscara.
O erro mais comum é o encobrimento dos dados originais do alto-falante, como a marca, a numeração e a data.
Nas fotos acima , a restauração de um alto-falante eletrodinâmico do rádio Bosch modelo 516 de 1935. O cone de papel foi substituído. Na parte superior do AF, vê-se o transformador de saída. Ele e o choque de filtro (cor preta) estavam interrompidos. O acabamento foi feito com tinta da cor alumínio, pintada com pincel comum.
Conserto da bobina interrompida de alto-falante eletrodinâmico do rádio Clarion AC-60 de 1930. Na foto da esquerda a bobina após a desmontagem. Na foto da direita após o reparo. Ao lado, o alto-falante pronto e instalado no gabinete.
Bobinas de RF e FI.
Os fios destas bobinas geralmente são muito finos, por vezes como um cabelo. A sua emenda e solda merecem muita atenção.
Conserto de uma bobina de RF interrompida. Rádio Clarion AC-60, USA 1930.
Dicas: A falta de sinal de RF ou de tensão +B ocorrem seguidamente. Pode ser a interrupção de uma bobina de RF, de FI ou do alto-falante eletrodinâmico. Elas terão que ser restauradas ou substituídas. A substituição da bobina de RF ou de FI é um caso mais difícil: para um bom funcionamento elas deverão ter as mesmas características (Hz) da avariada!
Válvulas
A válvula termoiônica é o coração dos rádios antigos, o motivo do colecionador. Uma considerável parcela de problemas consiste no desgaste das válvulas pelo tempo de uso. Para aferi-las, são usados um testador de válvulas e um manual contendo suas características. Um teste singelo com um multímetro verifica a continuidade do filamento. Para a sua substituição, existem manuais específicos e sites gratuitos na Internet.
Dicas: O simples “acendimento” da válvula é um mero anúncio do estado do seu filamento. Também há casos onde a indicação como “boa” no testador encobre um fraco funcionamento no rádio. A analogia da eletricidade com a hidráulica deve ser lembrada: o testador de válvulas indica apenas um parâmetro estático. Uma forma de conferir o seu funcionamento, num parâmetro dinâmico e real, é colocando-a num rádio de bom funcionamento e que use a mesma válvula.
Transformadores de força (de entrada)
Os transformadores de entrada do rádio recebem a tensão da rede, 110 ou 220 volts, fornecendo-a em diferentes valores para as necessidades do circuito.
Normalmente possuem saídas de baixa-tensão de 2 a 6 volts para a alimentação dos filamentos e lâmpadas. Para a alta-tensão os valores situam-se entre 200 a 300 volts.
Na restauração da parte eletrônica é comum encontrar este transformador queimado ou em curto-circuito. Torna-se importantíssimo o cuidado com este
componente, tanto pela função primeira no rádio, como pelo alto risco de queimar o restante do circuito.
Na foto ao lado, um transformador de força tipo Philips, para válvulas com filamentos de 4 volts, em fase de identificação e teste.
Uma fonte para obtenção destes transformadores são as sucatas de chassi de rádios onde a restauração torne-se difícil ou não se encontre o gabinete. A outra maneira de solucionar problemas do “trafo” é refazendo o seu enrolamento.
Dicas: Após retirar a “flecha” de ligação do rádio da tomada, com o multímetro na escala de medição de resistências (?), mede-se o valor entre os dois pinos da mesma“flecha” de ligação, sempre com o aparelho desligado da rede domiciliar.
O valor apresentado de resistência com o knob (botão) de ligação do rádio na posição desligado (off) deve ser zero; outros valores indicam problemas, por exemplo o curto-circuito. Na posição ligado (on), a resistência deve apresentar valores por volta de 5 a 15 ohms. Se for zero, deverão ser revisadas as ligações e a continuidade do cabo, o potenciômetro e o próprio transformador. Alguns transformadores em bom estado, enrolados com fio mais fino, podem acusar valores de 20 a 30 ohms.
Knobs (botões)
Os knobs e o dial constituem a “face” do rádio. Os botões originais são cada vez mais raros e caros, por vezes tendo que ser construídos. Os botões de madeira dos antigos modelos de gabinetes capelas ou tombstone podem ser feitos num torno para madeira. Os demais knobs de material sintético podem ser feitos com as mesmas substâncias usadas para próteses dentárias. Na foto à esquerda, o molde, o knob original preto e o laranja confeccionado. Ao centro, a primeira demão de tinta preta e com uma bucha de latão para ser preso ao eixo. À direita os dois knobs, pertencentes ao rádio Emerson modelo 547, construído em 1947nos USA.
Um dos botões deste receptor Zenith, modelo 6S321, construído em 1937 nos USA, foi feito por um amigo cirurgião-dentista. Na foto é muito difícil descobrir qual é, tal a perfeição”!
No lado direito, um Hallicrafters modelo S-53ª com o botão esquerdo confeccionado. Este fica mais fácil de ser identificado!
Daltro D’Arisbo
Colecionador e restaurador de rádios |